quinta-feira, 14 de julho de 2011

SOBRE A MÁGOA ALHEIA

Posso ver chorar alguém
e triste não estar também?
Posso ver o outro sofrer
e um consolo não trazer?

Posso ver correr o pranto
e não chorar o meu tanto?
Pode um pai ver seu rebento
chorar, sem sofrer tormento?

Pode a mãe sentar-se e ouvir
de medo um filho vagir?
Não, não pode ser assim,
nunca, nunca ser assim!

Pode Quem a tudo rira
ouvir gemer a corruíra,
ouvir gemer a avezinha
ou o infante que definha,

sem recobrir a ninhada
de uma piedade inflamada;
sem junto ao berço sentar-se
e todo em pranto inflamar-se;

sem se sentar noite e dia,
secando nossa agonia?
Oh, não pode ser assim!
Nunca, nunca ser assim!

Ele, que a alegria traz,
que infante também se faz;
que se torna homem de dor,
que sente nosso amargor.

Não há suspiro que dês
sem que o veja Quem te fez;
não há pranto derramado
sem que Ele esteja ao teu lado.

Oh! Que Ele dá sua alegria
e destrói nossa agonia.;
até que a dor vá embora,
fica ao nosso lado e chora.


William Blake – Canções da Inocência e da Experiência
http://www.arquivors.com/wblake1.pdf

2 comentários:

  1. acabo de ler Dorian Gray, bebendo o que resta de uma garrafa de vodka. Nesse momento Blake purifica.

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  2. Ah, Blake não conhecia nenhum psicopata, pelo jeito.

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